segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Sri Ganesha - Vighneswara – Vinayaka

Sri Ganesha - Vighneswara – Vinayaka

Sri Ganesha

Vighneswara

Vinayaka


     As máscaras de Deus são muitas, que ao mesmo tempo escondem e revelam a face da Glória.
     Um mito é uma máscara, uma metáfora daquilo que repousa por trás do mundo visível. Podemos dizer que os mitos são as chaves para a nossa mais profunda força espiritual; a força capaz de nos levar à Iluminação. Podem ser considerados como pistas para se conhecer as potencialidades espirituais do ser humano.
     Os mitos antigos foram concebidos para harmonizarem a mente e o corpo. Os mitos e ritos eram meios de colocar a mente em acordo com o corpo e colocar o rumo da vida em acordo com o rumo apontado pela natureza. Os mitos estimulam a tomada de consciência da perfeição do homem, a plenitude da sua força e a introdução da luz no mundo; ajudam o homem a buscar e destruir as coisas sombrias que estão lá no fundo dele mesmo.
     Quem é Ganesha? O que ele vem ensinando ao mundo?
     Ganesha é, talvez, uma das mais populares deidades veneradas pelos Hindus. Nenhum empreendimento, seja sagrado ou secular, é iniciado sem antes fazer-se uma invocação a Ganesha. Ele é encontrado em todos os templos Hindus, parques, ruas principais, escadarias dos rios sagrados (ghats) e nos topos das colinas. Ele é uma presença obrigatória entre os utensílios de viagem de qualquer Hindu.
     Além da Índia, Ganesha é encontrado no Tibete, Nepal, China, Japão e em quase todos os países do Sudeste Asiático. Já foi encontrado, em escavações arqueológicas, até no México. Há um Upanishad, o Ganapathyopanishad, exclusivamente dedicado a ele, e Shankara, no seu “Ganesha Bhyjagan” (hino de louvor a Ganesha), descreveu-o como “o imperecível”, “o imaculado”, “transcendendo as qualidades da matéria (gunas)” e “a bem-aventurança suprema”.
     Há um significado especial em colocar Vighneswara num primeiro plano, antes de se iniciar qualquer empreendimento: quando um elefante se move na floresta, ele abre uma clareira para que os outros animais possam passar. Da mesma forma, quando invocamos Ganesha, os caminhos são abertos para nossos empreendimentos; a viagem da vida se torna mais feliz e mais calma com a Graça dele.

 
     Os Nomes
     Ganesha é conhecido por vários nomes:
     GANESHA   = Senhor de todos os seres
     Gana   = multidão
     Isha   = Senhor
     GANAPATHI  = Senhor de todos os seres ou da sabedoria
     Gana   = multidão
     ou
     Ga   = Buddhi ou intelecto
     Na   = Vijñana ou sabedoria
     Pathi   = Mestre ou Senhor
     VIGHNESWARA  = Senhor de todos os obstáculos
     Vighna  = obstáculo
     Eswara  = Senhor
     VINAYAKA  = Mestre Supremo
     Vina   = sem
     Ayaka   = líder
     GAJANANA  = Aquele que tem a cara de elefante
     Gaja   = elefante
     Anana   = cara
     GAJAVADANA = Aquele que tem a cara de elefante
     Gaja   = elefante
     Vadana  = cara
     EKADANTAM = Aquele que tem uma só presa (dente)
     Eka   = um
     Danta   = dente
     LAMBODARAM = Aquele que tem a barriga grande
     Lamba   = grande, comprido
     Udaram  = estômago

 
     O Simbolismo
     O primeiro filho do Senhor Shiva é chamado de “Mestre Supremo” (Vinayaka) ou “Senhor de todos os obstáculos” (Vighneswara) porque ele é o Senhor Supremo de todas as circunstâncias, e nem as forças divinas podem obstruir seu caminho. “Ganas” também simbolizam os sentidos; assim,Ganapathi é também o “Senhor dos Sentidos”. Ele é “Siddhi Vinayaka”, o mestre que concede a potência espiritual e  “Buddhi Pradayaka”, aquele que concede a inteligência suprema.
     O Senhor da Cabeça de Elefante, Senhor de todas as dificuldades na vida, possui uma grande cabeça, que simboliza sua capacidade de conceber e compreender a lógica do pensamento e refletir sobre a Verdade dos ensinamentos. O primeiro passo no caminho espiritual é escutar (sravanam).Ganesha nos mostra isto simbolicamente, com suas grandes orelhas. O segundo passo é refletir(mananam) sobre os ensinamentos escutados, e isto ele faz com seu “grande” intelecto, representado pela cabeça de elefante.
     A sua tromba é uma ferramenta que tem o poder de desenraizar uma árvore e a sensibilidade para levantar uma palhinha de feno. Como a tromba do elefante, assim deve ser a faculdade de discernimento do intelecto evoluído do homem, de modo que ele a possa usar no mundo exterior para resolver os problemas do dia-a-dia e, ao mesmo tempo, nos reinos sutis da personalidade interior.
     As presas representam os pares de opostos: o bem e o mal, o permanente e o transitório, etc. A tromba entre elas é o poder de discernimento para avaliar e chegar a conclusões adequadas neste mundo de dualidades.
     No dia de Ganesha (Vinayaka Chathurdhi), os estudantes em toda a Índia colocam seus livros em frente a um ídolo de Ganesha e veneram-no para que a deidade ilumine as suas mentes.
     Vinayaka também nos ensina sobre o sacrifício. Quando ele estava escrevendo o Mahabharata, ditado pelo sábio Vyasa, este último impôs a condição de que Vinayaka tinha que escrever sem parar. Este, por sua vez, impôs também ao sábio a condição de que não parasse de ditar. Enquanto escrevia, a pena que usava quebrou-se. Imediatamente, ele partiu sua própria presa para usar como caneta. Por isto, é chamado Ekadanta (aquele que tem uma só presa). SAI BABA diz que esse é um exemplo esplêndido do espírito de sacrifício pelo bem da humanidade.
     Ganesha é representado com quatro braços. Em uma das mãos, ele segura uma corda de forca (Pãs’a), que simboliza o apego (Rãga) e, na outra mão, um aguilhão (Ankus’a) ou machado, simbolizando a raiva (Krodha). A corda, como o apego, pode nos atar e a raiva nos fere, do mesmo modo que o aguilhão. O aguilhão é um instrumento usado para domar animais. Quando entregamos nossa raiva e apego nas suas mãos, começa o trabalho de domar o animal que está dentro do homem.
     O machado é usado para cortar todos os apegos enquanto que a corda, que antes confinava o homem, agora é usada para puxar o devoto mais para perto dele. Na peregrinação espiritual, todos os obstáculos são criados dentro de nós mesmos: o apego ao mundo dos objetos, emoções e pensamentos constituem os obstáculos. Sri Vighneswara corta estes apegos e mantém, com sua corda, a atenção do buscador voltada para o objetivo superior.
     Durante a caminhada, ele alimenta o peregrino com os bolinhos de arroz que estão no prato a seus pés, simbolizando o prazer e a satisfação sentidos pelo buscador quando ele começa a evoluir para a Realidade - e o abençoa continuamente com progresso cada vez maior, até que o Homem da Perfeição (Man of Perfection, como é dito na Índia), se torna Ele próprio - O Senhor de Todos os Obstáculos - Sri Vighneswara.
     Todas as deidades na Índia têm o seu veículo e o ratinho (Musaka) é o veículo de Ganesha. Os veículos representam o meio pelo qual as deidades se comunicam com o corpo físico, mente e órgãos de percepção. A palavra sânscrita musaka (ratinho - origem da palavra mouse, em inglês) é derivada da raiz mus, que significa roubar - o ratinho entra silenciosamente nos lugares, rouba, devora e destrói tudo que encontra. Da mesma forma, o egoísmo entra em nossa mente sem que percebamos e destrói todos os nossos empreendimentos. Na combinação de matéria e espírito, o indivíduo nasce com a personalidade superior - da inteligência discriminativa, e a personalidade inferior - do homem que quer gozar a vida. Estas duas facetas da personalidade humana são representadas por Vinayaka cavalgando o ratinho. Somente o intelecto (Vinayaka) com seus poderes de discernimento pode controlar o ego destrutivo (Musaka) e, ante a inteligência discriminativa, o ego parece ridículo e pequeno.

O Ritual do Coco

     Há muitos rituais Hindus que sugerem como transcender as camadas da personalidade e realizar o Eu Superior. Um destes é a oferenda de um coco maduro nos templos, geralmente em frente a um ídolo de Ganesha. O coco representa o Karma Phala ou o Fruto das Ações do nosso Passado, que existe na forma de Vasanas, ou seja, as tendências que trazemos no inconsciente. Oferecer uma fruta em um templo, ou para o Guru, simboliza a entrega destes Vasanas. A casca representa o corpo denso que carrega no seu interior os desejos e apegos, que constituem o corpo sutil. O homem tem que renunciar a todos os desejos, exceto o desejo de realizar a Verdade. Quando o devoto se aproxima doGuru com esta única aspiração e um espírito de entrega, o Guru quebra a casca dura da mente-intelecto e expõe as tendências puras - Vasanas Sátvicos (simbolizadas pela polpa branca e doce do coco), para o Senhor. O último desejo, de realizar a Verdade, também é transcendido, como demonstrado pela remoção do tufo de palha da casca  e exposição dos três “olhos” da mesma. O terceiro “olho” refere-se ao “olho da Sabedoria” ou “Jnana Chakshu”, que confere a visão intuitiva do Ser. Finalmente, o leite que é derramado aos pés do Senhor constitui a fusão do Eu individual com o Ser Supremo.

O Nascimento de Ganesha

     As fontes principais de informação com respeito à mitologia Hindu são os dois grandes épicos: oRamayana e o Mahabharatha, os dezoito principais Puranas (antigas histórias tradicionais) e os cinco Tantras.
     Ganesha é tido como sendo o filho mais velho de Shiva e Parvati, mas no Matsya Purana e noPadma Purana encontram-se histórias diferentes sobre a sua origem. Entre os vários mitos que contam a origem de Ganesha, um dos mais populares é o que conta sobre o seu Nascimento, Morte e Ressurreição, tema que é explorado na mitologia de todas as religiões:
  • Parvati, consorte de Shiva, não tendo filhos, preparou uma imagem de um lindo menino feito de uma mistura da sujeira e dos ungüentos perfumados de seu próprio corpo, que ela colheu depois de banhar-se, e deu vida a este menino. Deu a ele a função de sentinela dos portões do palácio, com ordens para que ninguém pudesse entrar sem sua permissão. Shiva, após longas eras meditando nos Himalaias, retornou ao lar e, ao tentar entrar, foi barrado pelo menino. Sentindo-se muito insultado com esta atitude, transformou-se em Rudra (aspecto terrível da fúria deShiva) e, depois de uma luta, decapitou o rapaz. Quando Shiva se deu conta de que Parvati estava inconsolável com a perda de seu filho, arrependeu-se e mandou que seus atendentes fossem para a floresta e trouxessem a cabeça do primeiro ser que encontrassem. Eles obedeceram as ordens deShiva e trouxeram a cabeça de um elefante. Shiva enxertou esta cabeça no corpo do menino e novamente deu vida a ele. Depois da ressurreição do menino com a cabeça de elefante, Shivareconheceu-o como sendo seu primogênito e, para este filho “recém-descoberto”, entregou o cargo de líder do seu exército - Ganapathi ou Ganesha - senhor de todos os seres (almas) - comandante das forças espirituais.
     Analisando este mito, vemos que Parvati representa Prakriti - a natureza como o Poder do Absoluto, inseparável Dele. Ela é Maya Prakriti, poder do encobrimento, da ilusão, da ignorância, que é composto dos três Gunas - as três características da natureza manifestada: Sattva, Rajas eTamasSattva, a pureza, é representada pelos ungüentos perfumados, e Rajas e Tamas, as impurezas, pela sujeira do corpo de Parvati. Esta é uma explicação para as substâncias puras e impuras que a Mãe Parvati usou para formar o seu filho. Shiva é o Senhor do Yoga, e a aniquilação do menino, após a luta com o Pai, e a sua ressurreição com a cabeça de elefante simbolizam a transformação do menino em um ser espiritual. Ele agora tem o poder de destruir os inimigos dos Deuses e proteger os devotos, indicando-lhes o caminho. Ao caminho espiritual, denominamos Marga. Esta palavra vem da raiz Sânscrita mrg, que relaciona-se com as pegadas deixadas por um animal que seguimos. Este “animal” que seguimos é o nosso próprio Eu Espiritual.
     Existem muitas histórias sobre Ganesha, que aparece de várias maneiras, dançando, sentado, segurando vários objetos, etc.; todas são ricas em simbolismos e contêm ensinamentos.
     Toda a mitologia das divindades Hindus é formada por projeções de forças psicológicas e espirituais que estão dentro de nós e deve-se compreender que não é a forma grosseira que é adorada, mas a força sutil que está por trás da forma, que lhe dá significado.
     Compreender o significado de Ganesha é fazer uma investigação sobre o significado mais profundo do que é religião; é compreender a essência das escrituras. Assim, a eloqüência que está por detrás do ídolo se manifesta. O discípulo descobre que todas as deidades são diferentes aspectos do mesmo Ser Supremo - Realidade Interna de cada criatura, expressando-se através de vários símbolos e formas diferentes.