segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

As quatro correntes de Umbanda

As quatro correntes de Umbanda
26 dezembro, 2013
Por: Rubens Saraceni

Se a Umbanda é uma religião nova, seus valores religiosos fundamentais são ancestrais e foram herdados de culturas religiosas anteriores ao Cristianismo.
A Umbanda tem na sua base de informação os cultos afros, os cultos nativos, a doutrina espírita kardecista, a religião católica e um pouco da religião oriental (budismo e hinduísmo) e também da magia, pois é uma religião magística por excelência, o que a distingue e a honra, porque dentro dos seus Templos a magia é combatida e anulada pelos espíritos que neles se manifestam incorporando nos seus médiuns.
Dos elementos formadores das bases da Umbanda surgiram as suas principais correntes religiosas, as quais interpretamos assim: 
1ª Corrente: Formada pelos espíritos nativos que aqui viviam antes da chegada dos estrangeiros conquis­tadores. Esses espíritos já conheciam o fenômeno da mediunidade de in­corporação, pois o xamanismo multimilenar já era praticado pelos seus pajés em suas cerimônias. Eles já acreditavam na imortalidade do espírito, na exis­tência do mundo sobrenatural e na ca­pa­cidade de “os mortos” interferirem na vida dos encarnados. Também acredi­tavam na existência de divindades associadas a aspectos da natureza e da Criação Divina. Tinham um panteão ao qual temiam, respeitavam e recor­riam sempre que se sentiam ameaçados pela natureza, pelos inimigos ou pelo mundo sobrenatural. Também acredi­tavam na existência de espíritos malig­nos e de demônios infernais, mas sem a elaboração da religião cristã que aqui se estabeleceu.

2ª Corrente: Os Cultos de Nação africana, sem contato com os nativos bra­sileiros, tinham essas mesmas cren­ças, só que mais elaboradas e muito bem definidas. Seus sacerdotes prati­cavam rituais e magias para equilibrar as influências do mundo sobrenatural sobre o mundo terreno e também para equilibrar as pessoas.
Acreditavam na imortalidade dos es­píritos e no poder deles sobre os en­carnados, chegando mesmo a criar um culto para eles (o culto de egungun dos povos nigerianos).  Também cultuavam os ancestrais por meios de ritos elaboradíssimos que perduram até hoje, pois são um dos pilares de suas crenças religiosas.  Sua cultura era transmitida oral­men­te de pai para filho, na forma de lendas, preservando conhecimentos mui­to antigos, como a criação do mun­do, dos homens e até eventos análogos ao dilúvio bíblico.
A Umbanda herdou dos Cultos de Nação afro o seu vasto panteão Divino e tem no culto às divindades de Deus um dos seus fundamentos religiosos, tendo desenvolvido rituais próprios do religamento do encarnado com sua divindade.
O panteão Divino dos cultos afros era pontificado por um Ser Supremo e povoado por divindades que são os executores e manifestadores Dele junto aos seres humanos, assim como são seus auxiliares Divinos que o ajudaram na concretização do mundo material, de­mons­trando-nos que, de forma simples, tinham uma noção exata, ainda que limitada por fatores culturais, da forma como se nos mostra Deus e seu universo Divino.

3ª Corrente: Formada pelos kar­decistas de mesa, que incorporavam espíritos de índios, de ex-excravos negros, de orientais, etc. Criaram a corrente denominada “Umbanda Bran­ca”, nos moldes espíritas, mas na qual aceitavam a manifestação de Caboclos, Pretos Velhos e Crianças.
Esta corrente pode ser descrita como um meio termo entre o espiritismo, os cultos nativos e os afros, pois se fun­damenta na doutrina cristã, mas cultua valores religiosos herdados dos índios e negros.
Não abrem seus cultos com cantos e atabaques, mas sim com orações a Jesus Cristo. As suas sessões são mais pró­ximas dos kardecistas que dos um­bandistas genuínos, que usam cantos, palmas e atabaques. Seus membros se identificam como Espíritas de Umbanda.

4ª Corrente: A magia é comum a toda a humanidade e as pessoas recorrem a ela sempre que se sentem ameaçadas por fatores desconhecidos ou pelo mundo sobrenatural, principal­mente pela atuação de espíritos malig­nos e por processos de magia negra ou negativa.
Dentro da Umbanda, o uso da ma­gia branca ou magia positiva se disseminou de forma tão abrangente que se tornou parte da religião, sendo impossível separar os trabalhos religiosos espiri­tuais puros dos trabalhos espirituais má­gicos. Muitas pessoas desconhecem a magia classificada como magia religiosa. Mas esta nada mais é que a fusão da religião com a magia.

Estas são as principais correntes religiosas e doutrinárias que formam as bases da Umbanda. E isso sem falarmos do sincretismo religioso, pela qual a religião católica nos forneceu as suas imagens que, colocadas em nossos altares, facilitaram o processo de tran­sição de católicos para a Umbanda.
A estrutura religiosa espiritual da Umbanda já está pronta e só falta ser estruturada aqui, no plano material, pa­ra dar-lhe uma feição uniforme, quando seus valores religiosos e seus funda­mentos Divinos serão definitivos, dei­xan­do de mudar ao sabor das suas cor­rentes mais expressivas.
Os mensageiros espirituais nos aler­tam que esta estruturação deve ser feita de forma lenta e muito bem pen­sada. Nós temos certeza de que no fu­tu­ro a Umbanda terá uma feição re­ligiosa muito bem definida, pois suas cor­rentes formadoras se unificarão e se uniformizarão, fortalecendo a Umbanda como religião.